segunda-feira, 27 de setembro de 2010

...todo dia é dia para refletir sobre o...



Sai do Carro e vem pra Rua




Dia Mundial Sem Carro

por Federica G. Fochesato*
(Artigo publicado em 'O VALE'
pg. 02 - 22.09.2010)

Afinal, a quem as cidades devem atender? É a partir deste questionamento que pretendo lançar algumas reflexões sobre o Dia Mundial Sem Carro – data comemorada há mais de 10 anos, que estimula a sociedade a deixar o seu carro em casa (ao menos nesse dia) e, assim, fazer uso do transporte público, da bicicleta ou até mesmo de suas pernas para se locomover. E para nós, aqui no Brasil, tal data ganha mais força uma vez que, um dia antes, 21 de setembro, comemora-se o Dia da Árvore.


Portanto, ao se realizar diversos tipos de plantio ao longo de amplos passeios públicos de modo a torná-los sombreados e agradáveis e, ainda, ao se oferecer, uma eficiente e maciça infra-estrutura de transporte público ligada a outros modais de transporte como a bicicleta, por exemplo, não restam dúvidas: tais medidas caminham para o desenho de uma nova paisagem urbana na qual as “pessoas” fazem parte dela. Ou seja, trata-se da “humanização” do espaço público. E, nesse processo, além do meio físico (rios, córregos, nascentes, entre outros) ser relevado com seriedade, devolve-se a cidade a quem ela realmente pertence: ao ser humano, independentemente do meio de transporte que cada um utiliza para exercer o seu direito de ir e vir (garantido pela própria Constituição, aliás).

Porém, na contramão da tão necessária coletividade e da visão de uma cidade na qual são as pessoas (antes dos automóveis), os elementos vitais que devem fluir, municípios de médio porte (como São José, por exemplo), começam a apresentar cenários duvidosos com relação à qualidade de vida. E, por outro lado, são justamente estes mesmos municípios aqueles com maiores chances de controle e reversão de uma situação urbana caótica (vide como questões envolvendo o trânsito permeiam nosso cotidiano mais e mais). Se os municípios avançam positivamente a partir do momento em que, junto à sociedade, estabelecem sua Lei de Uso e Ocupação do Solo a partir de um Plano Diretor desvinculado de interesses político-econômicos, retrocedem na medida em que deixam de elaborar um efetivo Plano de Mobilidade Urbana. Pois bem: e o que Dia Mundial Sem Carro tem a ver com isso? Simplesmente, tudo. Pois num cenário em que o crescimento das cidades vem acompanhado do aumento da compra e, infelizmente, do uso irracional do automóvel, urge a necessidade de uma Mobilidade Urbana Sustentável que, com responsabilidade e sem receio de ser impopular, deixa em último plano o incentivo ao transporte individual. Ou seja, estão em primeiro foco a ampliação dos passeios públicos, à acessibilidade dos portadores de necessidades especiais, o incentivo aos ciclistas uma vez que fazem uso de um veículo não poluente, o incremento do transporte público, bem como da infra-estrutura cicloviária (ambos equacionados, logicamente, segundo o próprio crescimento do município), e uma série de outras medidas que harmonizam o meio urbano tornando-o mais saudável, inclusive, a nós todos.

Nesse dia 22, portanto, ou, mesmo em outros, que tal deixar o carro em casa e experimentar outras situações de mobilidade para desvendar a cidade? Aliás, a nossa cidade. Muitas vezes, fechados dentro dos automóveis, nos fechamos também às inúmeras necessidades coletivas do meio urbano e aceitamos, sem questionar, que somente a construção de mais vias (e a ampliação de outras) irá resolver os problemas de trânsito excessivo – esta, além de ser uma visão simplista vai contra a idéia de se humanizar os espaços e de se devolver a cidade a quem ela realmente pertence.
*Federica G. Fochesato, educadora ambiental e jornalista

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